A arte de envelhecer
Todos os seres vivos envelhecem! É um facto. Natural e universal.
Porém, o processo bio-psico-social do envelhecimento é único para cada um, pois são únicas a sua genética e as suas circunstâncias da vida.
Na nossa vida em sociedade, no entanto, definiu-se um critério comum para o momento em que nos tornamos velhos. Esse momento é o da reforma, o momento em que deixamos de ser profissionalmente ativos.
Aí, já não somos considerados únicos – apesar de mantermos as nossas circunstâncias, a nossa saúde, energia e atitude próprias. Passamos a pertencer a uma categoria – “os idosos” – toda ela cheia de conotações pouco abonatórias: dependentes, frágeis, inúteis, com opiniões desatualizadas, virados para o passado, um peso para a família, sem contribuir para a sociedade, sem interesse ou curiosidade em aprender coisas novas.
Longe de ser verdade, é esta a lente com que se olha em geral – e injustamente – para uma pessoa reformada ou mais velha. A realidade é que os mais velhos são milhões de pessoas diferentes, homens, mulheres, ricos, pobres, de todas as profissões, sozinhos ou com família, com mais ou menos saúde, opções de vida diferentes, como afinal, noutras etapas da vida.
Podemos mudar essa lente? Eu diria que devemos mudá-la e com urgência!
Começando por cada um de nós: independentemente da idade que temos hoje, devemos fazer o exercício de observar em nós, quantos preconceitos interiorizámos sobre o envelhecimento… e que se tornarão entraves a projetos e sonhos no futuro. Contrapomos a idade à capacidade de ser feliz? A vida depois da reforma a um futuro ainda cheio de possibilidades?
A este propósito, queria sublinhar um dos maiores riscos que acarreta a vida depois da reforma: o isolamento e a solidão. É tentador confundir descanso com estagnação e facilmente se criam dias sem rotinas que levam a uma deterioração progressiva da saúde.
Afinal, apenas 25% da longevidade é determinada pela genética e 75% depende do estilo de vida e do ambiente! (Herskind et al. 1996, Human Genetics).
As escolhas que fazemos definem o rumo da nossa vida, em qualquer idade.
Se treinarmos olhar a vida por uma outra lente – a de uma viagem em permanente desenvolvimento – descobrimos que as oportunidades, os desafios, a possibilidade de relações novas existe sempre, seja qual for a idade.
É nisso que consiste o Envelhecimento Ativo e uma Vida bem vivida!
Joana Miranda, Coordenadora do Programa Aproximar Oeiras