História Santa Casa Misericórdia Oeiras

Janeiro 1

1495

Reza a tradição e a crença, que de uma ermida em Oeiras junto ao mar, fora feito um local de culto a Santo Amaro. A benignidade do Santo e a proximidade das águas salgadas da foz do rio, traziam peregrinos crentes na cura dos seus males. Restabelecidos das debilidades, os doentes multiplicavam as oferendas no sopé do altar, engrandecendo a fama do Santo milagroso.

 

De tal forma se mistificou esta paragem do “Alto dos Romeiros”, a sul do lugar de Oeiras, que o próprio Rei D. Manuel I a ela recorreu por se achar “enfermo das pernas”, voltando repetidas vezes a visitar Santo Amaro nesta ermida onde orava e desfrutava da magnifica paisagem marítima.

 

A complacência pelo local, leva o Rei a ver mais além, e deixa recomendado a seu filho D. João III, erigir uma fortaleza sobre ponta de um rochedo que vislumbrava, com a finalidade de obstruir os ataques de piratas africanos junto à barra quando perseguiam os navios Tejo a dentro.

 

A fortaleza edificada, deu mais tarde no reinado de D. João III principio àquela que hoje conhecemos como Torre de S. Julião da Barra, continuada por D. Sebastião e D. Henrique, aumentada por D. Filipe I e II, e melhorada por D. João IV.

Janeiro 1

1495 (cont)

Contudo, D. Manuel I, convicto e determinado, principia a reinar corria o ano de 1495. Junto com “pessoas de Oeiras” e Reguengo, que viajavam para os portos de África e da Índia (negociantes, pilotos e marinheiros) se lembraram de erigir uma Confraria com o título de Nª Senhora da Conceição dos Mareantes, a qual tempos depois se ampliava, e passou a designar-se “Mareantes da Carreira da Índia”.

 

Esta terá sido a primeira Irmandade a fixar-se na graciosa ermida de Santo Amaro. Conquistadores, homens lutadores, grandes marinheiros, vigorosos na luta contra poderosos rivais, doutrinados no combate, dominadores de tempestades e angústias, determinados no esforço de vencerem a morte pelos cantos do mundo, aqui firmaram o sério compromisso de honrarem a Mãe Imaculada do Redentor, que repartia as suas Graças com o sábio Santo Amaro.

 

Consta que em visita à ermida D. Manuel I, devoto vigoroso da Conceição Imaculada, foi abordado pelos novos confrades de Nª Senhora da Conceição que se uniram, e cerimoniosamente lhe rogaram ajuda no valor de edificação de uma ermida para albergar a Sua Confraria, sem nunca desapossar o antigo padroeiro Santo Amaro, servindo ainda de cómodo aos que entrassem a barra chegados das conquistas de África e da Índia.

 

Concedida a permissão por Sua Alteza, proprietária dos terrenos, para construção da desejada ermida, D. Manuel I amplia a petição para os terrenos circundantes e logo se iniciam as construções, no exato local da antiga ermida de Santo Amaro, que sempre conservou o nome do Santo, não apenas a ermida, mas igualmente o lugar, localizado no Monte dos Sete Castelos, a Sueste da Vila, e onde existiam a par da ermida, “hospedarias onde se demoravam os Romeiros”.

 

Casas térreas circundavam estas hospedarias, sitas no Rossio da ermida, e todas elas cumpriam foro à Irmandade de Nª Senhora da Conceição e Santo Amaro.

Janeiro 1

1704

Mais tarde, a Ordem Terceira, os nossos Irmãos Terceiros Franciscanos, corria o ano de 1704, ocuparam-se dos direitos à posse da ermida de Santo Amaro, pois assim D. João V lhes deu a entender como tendo-lhes sido doada por si.

 

Contudo, o povo de Oeiras e não só a Irmandade, opôs-se possantemente e obteve sucesso na expulsão dos Terceiros. Imperou a vontade do povo, formalmente anunciada em 1709. Todavia, já em 1702 se dera o caso da ermida se assumir como Igreja Paroquial, tendo em 1744 num plano de reconstrução sofrido notáveis melhoramentos.

 

É bom de referir que no Rossio circundante, foi mandado construir em 1790, pelos Oficiais da Fábrica da Igreja Paroquial, da já então Vila de Oeiras, o Hospital, enquanto elemento essencial às obrigações que fundam uma Irmandade.

 

Durante décadas perdidas os moradores das freguesias abdicaram dos seus legados para se dedicarem ao hospital, onde se acolhiam pobres, mendigos e peregrinos.

 

Bem mais tarde, uma comunhão de pessoas de boa vontade constituíram uma Instituição de caridade de seu nome “Assistência aos Pobres da Vila de Oeiras”.

 

De índole misericordiosa, desde sempre esta Instituição labutou em proveito dos pobres, distribuindo rações de leite pelas crianças e doentes, esmolas aos necessitados, donativos às parturientes e outras mercês a que a prática do bem impele.

 

Ainda assim, este compromisso vinha tomando proporções de uma crescente responsabilidade e dimensão, foi então decidido criar uma outra estrutura de atuação neste âmbito da beneficência, e converter o cariz de Assistência em Misericórdia.

Janeiro 1

1869

Em jeito de referência, saiba-se que D. Leonor, à data com quarenta anos, viúva de D. João II e irmã do novo monarca e regente de Portugal, funda, a 15 de Agosto de 1498, na capela de Nª Sr.ª da Terra Solta, nos claustros da Sé Patriarcal, em Lisboa, a Irmandade de invocação a Nossa Senhora da Misericórdia, na ausência de D. Manuel I, que se deslocara a Castela com sua mulher a rainha D. Isabel.

 

A Misericórdia, a mais distinta Casa da Caridade era a nas primeiras dedadas do século passado, alvo de movimentos propícios ao reavivamento de todas as suas Casas a nível nacional.

 

Mal gerida, a Irmandade chegou a ser oficialmente extinta, por ordem do Governo Civil de Lisboa para ser entregue à Paróquia. Mas por força do povo, volta a ser renascida em 1869, com a incontornável importância da “certidão de batismo”, quando é criada a 1ª Mesa, segundo registos em acta.

 

Reerguiam-se umas, construíam-se outras, e idealizavam-se mais, e Oeiras foi contemplada nesta lufada. Avançado no tempo, em Assembleia Geral realizada a 16 de Dezembro de 1926, foi deliberado proceder à transformação da “Assistência aos Pobres da Vila de Oeiras” numa Misericórdia, com a denominação de “Santa Casa da Misericórdia de Oeiras”, que por portaria de 26 de Abril de 1927 foi concedida aprovação ao Compromisso deste novo organismo.

Janeiro 1

1926 – Atualidade

A Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia encetou negociações junto da Irmandade de Nª. Srª. da Conceição e Stº. Amaro, no sentido da sua entrada na Misericórdia.

 

No melhor entendimento e reciprocamente confiantes as duas partes, chegaram a um completo acordo. Em 28 de Fevereiro de 1929 foi autorizada superiormente a sua união, por deliberação das respetivas assembleias gerais, da Irmandade com a Santa Casa da Misericórdia de Oeiras, as quais se incumbem de plena de fé, e evangelização, empenhando-se em auxiliar os desventurados, em tudo o que é concebível.

 

E assim, a Santa Casa da Misericórdia de Oeiras nasceu da fusão da multissecular da Irmandade de Nª. Senhora da Conceição e Santo Amaro, com a “Assistência aos Pobres da Vila de Oeiras”, associação assistencial criada em 1919 e cuja primeira Direção integrava Carlos Queirós, quem viria a ser o primeiro Provedor da Misericórdia.